Há 14 anos – precisamente no dia 22 de Fevereiro de 2002 – tombou em combate, nas matas do Luvo, região de Lukusse, província do Moxico, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente Fundador da UNITA e Alto Comandante das ex-FALA, Forças Armadas Patrióticas e Revolucionárias de Libertação de Angola.
Por Franco M. Nhany
Um dos artífices da independência nacional; percursor da democracia multipartidária em Angola; símbolo de patriotismo, coragem, bravura, de luta e sacrifício pelo ideal nobre dos angolanos excluídos e injustiçados.
Homem de convicções profundas, simples, e nunca foi um homem rico. Nunca investiu em bens materiais pessoais dentro ou fora do país, nem sequer deixou qualquer tipo de herança material para os seus filhos. Tanto é assim que o Comité de Sanções criado injustamente pela ONU, para procurar as contas bancárias onde estariam, supostamente, domiciliados os dinheiros de Jonas Savimbi, acabou por concluir que não existiam tais fundos ou qualquer outro tipo de investimentos.
O sentimento que ligava o Dr. Jonas Malheiro Savimbi à sua Pátria era tão profundo que mesmo em situações extremamente difíceis da vida no contexto de uma luta revolucionária, recusou ofertas asilos dourados em África e na Europa, respondendo sempre que não saía de Angola e, se tivesse de morrer, preferia morrer no país, ao lado dos seus soldados e do povo.
Pela sua entrega e dedicação à causa do povo angolano, o 22 de Fevereiro foi consagrado pela UNITA como o dia do Patriota, e é comemorado todos os anos sob o lema:
“Dr. Jonas Malheiro Savimbi, uma vida por Angola e pelos Angolanos”.
Uma forma de homenagear e de reconhecer as virtudes heróicas do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, é evocar, a todo o tempo, os feitos da sua vida e obra.
Ainda jovem intelectual revolucionário, desenvolveu uma acção política de mobilização que convenceu, encorajou e galvanizou outros tantos jovens para a luta de libertação nacional, nos anos 60.
As suas habilidades políticas e diplomáticas como dirigente na UPA-FNLA elevou o seu prestigio e credibilidade nos areópagos internacionais, como foi o seu contributo directo na constituição do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exilo), de que o Dr. Jonas Malheiro Savimbi era o Ministro dos Negócios Estrangeiros, bem como a sua participação na ossatura que veio dar na criação da Organização da Unidade Africana –OUA, aos 25 de Maio de 1963.
O Projecto da criação da UNITA surge como um imperativo histórico, cujos motivos a história registou e deu razão. Senão vejamos:
As divergências no plano estratégico da condução da luta armada anticolonial pelos Movimentos então existentes (FNLA e MPLA), ditaram a adopção de princípios patrióticos e revolucionários da guerra de guerrilhas, com vista a dar novo impulso à luta de libertação nacional, tais como:
1. Direcção no interior do país.
2. Contar essencialmente com as nossas próprias forças.
3. Consciencializar o povo e uni-lo na luta pelos seus direitos inalienáveis.
Estes princípios, desde logo, constituíram-se no tripé de sustentação do Projecto proclamado a 13 de Março de 1966, em Muangai, província do Moxico.
Este é o Projecto que hoje se mantém de pé e actual, como alternativa viável e credível para tirar Angola e os Angolanos do marasmo em que se encontra. Sim, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi na génese da UNITA em 1966, estabeleceu os seguintes princípios:
1. Liberdade e Independência Total para todos os Homens e para a Pátria-Mãe. (Ainda hoje é válido!).
2. Democracia assegurada pelo voto do povo através de vários Partidos Políticos. (Ainda hoje é válido!).
3. Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados, primando sempre pelos interesses dos Angolanos. (Ainda hoje é válido!).
4. Igualdade de todos Angolanos na Pátria do seu nascimento. (Ainda hoje é válido!).
5. Na busca de soluções económicas, priorizar o campo para beneficiar a cidade. (Ainda hoje é válido!).
O 5º princípio “Na busca de soluções económicas, priorizar o campo para beneficiar a cidade”, vem desenvolvido na Obra literária “ A via da recuperação nacional de Angola” (pág. 114-1983) – Jonas Malheiro Savimbi, e que passo citar:
“Apenas o desenvolvimento rural poderá reter as populações no interior e, deste modo, salvar as cidades. Urge, por isso, empreender-se um reforço racional e concentrado para se levarem as estradas, a água canalizada, a electricidade, os supermercados e outros centros comerciais, as clínicas, as escolas e outros serviços sociais às comunidades rurais para se criarem as condições materiais conducentes à desejável transformação da vida do nosso povo”. – Fim de citação.
O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, na Obra que vimos citando, refere, ainda, no capítulo da Industria Extractiva, uma questão que é candente, e, volto a citar: “O petróleo, como a maior parte dos recursos minerais, é um bem esgotável e não renovável, possuindo um valor de mercado totalmente dependente de factores aleatórios de oferta e procura externos”.
Mais adiante acrescenta: “Dado o vasto potencial de Angola em recursos minerais, deve-se fazer um esforço racional para se diversificar a indústria extractiva nos vários sectores minerais lucrativos, podendo-se, assim, aumentar e reforçar a capacidade nacional de mobilização de divisas, fornecendo também uma variedade de matérias-primas para outros sectores vitais da indústria” (fim de citação).
O Executivo do Engº José Eduardo dos Santos acorda tarde e em má hora para propalar da necessidade de valorizar e priorizar os produtos nacionais, com o fracasso dos programas do Balcão BUÉ, Nosso Super, Papagro, o diálogo com a juventude, o diálogo com a mulher rural, água para todos, só para citar alguns.
A propósito, e sempre no princípio de “priorizar o campo para beneficiar a cidade”, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi salienta na pág. 78 da Obra que vimos aludindo, o seguinte:
“ As potencialidades de Angola para a produção agrícola são enormes. A extensão territorial, a diversidade das condições ecológicas e os recursos em matéria de solos e clima, associados aos conhecimentos agronómicos já hoje disponíveis, podem garantir uma alta capacidade de produção nacional de uma grande variedade de culturas alimentares e industriais em quantidades suficientes não só para as necessidades internas mas também para exportação” (fim de citação).
O Dr. Jonas Malheiro Savimbi não priorizava a agricultura apenas nos seus pronunciamentos mas também e, sobretudo, empenhava-se para a sua efectividade. A prova é a criação da Escola Técnica de Agricultura e Pecuária – ETAP – que formou técnicos agrícolas que garantiram a auto-suficiência alimentar, com os Centros de Produção em todo o território livre.
Ao projectar uma nova base, os técnicos da agricultura e pecuária eram destacados para a prospecção dos terrenos em que as populações a instalar deviam exercer a actividade agrícola, tendo em vista a auto-suficiência alimentar.
Apenas citamos alguns exemplos da profundeza e do alcance do pensamento do Dr. Jonas Malheiro Savimbi.
Ser visionário e antecipar-se aos acontecimentos é um pressuposto basilar para quem se situa bem na defesa dos interesses dos cidadãos, enquanto destinatário das riquezas nacionais e do erário público.
Afinal o que faltou ao Chefe do Executivo em Angola é a arte de planear e prever situações para evitar a crise que hoje devasta sistematicamente o país com consequências imprevisíveis.
O Executivo de José Eduardo dos Santos transformou Angola num país de incertezas, sem rumo. Ninguém sabe o que vai ser amanha. O que os angolanos sabem é que o país anda de mal a pior sempre com o futuro sonhado alto, adiado. Já vão 40 anos.
A situação é crítica mas não é desesperada.
Não olhemos impávidos e incrédulos para a situação difícil que vivemos, sob o regime do Sr. José Eduardo dos Santos.
A mudança é possível e está ao alcance da nossa mão, a mão do eleitor que vai votar nas eleições gerais de 2017.
Apelo à unidade de todos os angolanos em geral e os simpatizantes, membros e militantes da UNITA em particular para maior responsabilidade, trabalho sério e permanente na mobilização do eleitorado, sem perdermos nunca a esperança, o tempo e a oportunidade para operarmos a mudança tão desejada pelo povo martirizado.
Bem dizia o Presidente Dr. Jonas Savimbi, nosso Guia e Mestre: “O lugar de escravo não se busca. Está a disposição de todo e qualquer homem fraco. O lugar cimeiro de dignidade conquista-se através de muito sacrifício”.
Permitam-me exaltar o sentimento de solidariedade humanista do Dr. Jonas Malheiro Savimbi para com as crianças, os jovens, as mulheres e os idosos.
O Centro de Formação Integral da Juventude (CENFIN), era uma das instituições criadas para acomodar e doar carinho, afecto e protecção às crianças e adolescentes, ocupando-se das dimensões mais sensíveis como a formação académica e de artes e ofícios. Muitos destes jovens saídos do CENTIN, dos liceus e Institutos Polivalentes, têm hoje formação superior e são professores catedráticos em Angola, no continente e no mundo.
Com a criação das condições sociais e administrativas de apoio a população das terras livres de Angola, o Dr. Jonas Savimbi abre o espaço de maior intervenção das mulheres na sociedade e nas instituições para o exercício de cargos públicos de chefia e não só. A participação das mulheres nos vários ramos das Forças Armadas correspondeu a um patamar elevado de oportunidades práticas e estímulo às mulheres na conquista dos seus direitos. O Dr Savimbi acabava assim com o preconceito retrogrado da mulher meramente doméstica. Impulsionava deste modo as mulheres para o desafio da igualdade do género de que muito se “badala” hoje em Angola e no mundo.
O Dr. Jonas Malheiro Savimbi dava uma atenção especial aos idosos, localizando-os em áreas sempre seguras, com tranquilidade, assistência médica, medicamentosa e outras condições de subsistência e lazer recomendáveis para a sua longevidade.
Conversava longa e pacientemente com os idosos, ouvindo conselhos da sabedoria africana, ao que chamava de auscultar a Nação. O Dr. Savimbi dava o tratamento honroso aos mais velhos que se sentiam, assim, reconhecidos, reconfortados e com autoridade moral para transmitirem as suas experiencias e conhecimentos às gerações mais novas sobre os valores da tradição e cultura angolana e africana.
Não obstante a azafama do dia a dia do labor, o ambiente distendido do convívio com os mais velhos permitia a pausa no tempo para pensar Angola na sua Angolanidade, nos seus usos e costumes. É verdade! Muitos aqui presentes foram protagonistas das realizações que emanavam do pensamento guia e mestre do Dr. Jonas Savimbi.
Aqueles que não conheceram ou conheceram mal o pensamento do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente Fundador da UNITA, sentir-se-ão mais esclarecidos e até tranquilizados ao consultarem a sua vasta bibliografia.
Muito mais ainda se podia dizer sobre o percurso histórico e glorioso da vida e obra do Saudoso Presidente Fundador da UNITA, Dr. Jonas Malheiro Savimbi e sobre o país que temos, todavia termino por aqui porque a magnitude da sua obra não cabe num discurso possível.